sexta-feira, 17 de abril de 2009

Que festa é Essa?

Os artistas de Brasília começaram hoje uma onda de
protestos por terem sido excluídos das comemorações do
aniversário da cidade.
Veja uma carta que dá ampla noção do caos do setor
cultural do GDF e dos superfaturamentos de cachês.

À Secretaria de Cultura do DF

Sr. Silvestre Gorgulho - Secretário
Sr. Beto Sales – Subsecretário

Brasília, 12 de abril de 2009.

Senhores,

Aproxima-se
o aniversário de Brasília, dos seus 49 anos, e a cidade continua
carente de projetos culturais sólidos. As discussões comumente giram em
torno apenas do FAC, aquele fundo cuja verba os senhores são
responsáveis por atrasar e protelar, deixando boa parte dos artistas
brasilienses com suas produções no meio do caminho, onde há sempre “uma
pedra”, “uma pedra”, “uma pedra” chamada politicagem de gabinete. Somos
sempre informados de que ‘pareceristas’ serão contratados e que haverá
maior agilidade na liberação dos recursos, das dificuldades do governo
etc. Lamentavelmente, os senhores não falam a verdade.



No
entanto, em paralelo a essa postura, aliás, embasada por um discurso
salva-almas, como o de determinadas igrejas do mundo midiático moderno,
somos surpreendidos com a notícia de que um tal Edu Casanova, célebre
desconhecido da “axé music” recebeu R$ 800.000,00 da BrasiliaTur para
divulgar o aniversário da cidade no carnaval baiano, e ainda, de
quebra, o convite para escrever o hino dos 50 anos, uma letra por sinal
medíocre, divulgada pelo Correio Braziliense. Poetas como Cassiano
Nunes, Fernando Mendes Viana ou Renato Russo devem estar dando
cambalhotas no túmulo... De tanto rir. Agora, na divulgação da
programação das festividades de 21 de abril (http://www.youtube. com/watch? v=QkHSM6BkvM8,
vídeo feito por Cacai Nunes), levamos um soco na cara, no formato de
notícia de que para mostrar a “alma da cidade” (palavras do Sr.
vice-governador) , teremos como principais atrações Xuxa e Cláudia
Leite, sem dúvida, duas das principais referências no que diz respeito
ao que de pior a indústria cultural já produziu no Brasil nos últimos
anos, com cerca de R$ 950.000, 00 de cachê só para as duas, sem contar
o restante da programação. E tudo isso, segundo o Sr. Roney Nemer,
demissionário da BrasiliaTur, com a anuência da Secretaria de Cultura
do DF. E mais uma vez, os artistas da cidade são desrespeitados.
Cabe-lhes apenas o papel de coadjuvantes em sua própria festa, em sua
própria casa e de sua própria história.



Tais fatos, senhores,
reflete um outro grande mal da política brasileira, ou seja, a velha
fórmula do “pão e circo”. Os senhores adotam as mesmas e viciadas
estratégias do coronel do cerrado Joaquim Roriz, que teve que renunciar
ao cargo de senador, da mesma forma que o vosso governador José Roberto
Arruda, diante de denúncias sobre querer se beneficiar de forma
particular no uso de um cargo público. É aquela mesma visão política
que entende o povo como “povão”, uma espécie de massa disforme sem
identidade ou vontade própria; e não como gente que pensa, trabalha e
sua na construção do país. Que não vê a arte como instrumento
fundamental para a construção de um mundo melhor, e que ao mesmo tempo
abre espaço para os oportunistas que se alimentam da miséria cultural
para vomitar a alienação pérfida de todos os dias.



Pergunto:
Os senhores se sentem bem concordando com tudo isso? Os senhores
conseguem olhar para os próprios filhos todas as manhãs, sabendo que lá
fora a cidade está ficando cada vez mais violenta, pois entre tantos
fatores responsáveis por isso, é órfã de políticas culturais e
educacionais que promovam a paz e a construção do pensamento crítico e
cidadão? Os senhores se sentem realizados humana e profissionalmente
nos cargos que ocupam ou se acomodam diante da transitoriedade de um
cargo político abençoado por conchavos de bastidores, que após um
“lava-mãos” regado ao cafezinho morno de uma repartição pública, suas
consciências repousarão tranqüilas?



A classe artística de
nossa cidade se sente cansada, usada, desrespeitada e violentada diante
desse governo. Educação e cultura para os senhores são valores
meramente imediatistas, e que, definitivamente, não constam de sua
plataforma de projetos ou de trabalho.



Nosso alento, no
entanto, é saber que vocês passarão (sem nunca terem vindo). Seria mais
digno se os senhores colocassem seus cargos a disposição, pois a
Secretaria de Cultura atualmente não passa de um simples anexo da
BrasíliaTur.



Triste biografia.

Atenciosamente,

Adeilton Lima
Ator


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